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sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Especialmente da página de Marla de Queiroz


Mais um texto de Marla de Queiroz que retrata exatamente o que nós, mulheres modernas, continuamos sentindo como nossas avós. 

Ontem estava dizendo isso a minha cara metade: "Zé, estou me sentindo apática, com vontade de nada, quero só ficar num canto e... sozinha. Será depressão? E ele, lúcido como sempre, responde: Te vejo lá para o final da próxima semana, quando a TPM e a menstruação passarem. Prefiro evitar riscos!"

E hoje acho esse texto da Marla, retratando exatamente como eu e todas as demais sereias nos sentimos.

"Realmente, não sei o que é pior: TPM ou menstruação. Na TPM eu sinto um ódio súbito ou uma tristeza profunda (ou os dois alternada ou juntamente). Só não encontro o motivo. 

Durante a menstruação eu fico, sinceramente, imprestável: tudo dói, me falta disposição, me sinto doente. Já tentei todos os tratamentos, simpatias, evitei alimentos, etc e tal: nada adianta, resta-me o conformismo. 

Então eu fico devaneando sobre a revolução hormonal no meu corpo. Meus hormônios se voltam contra mim numa batalha agressiva, tentando me vencer sabe lá Deus por qual motivo. E quase sempre vencem: escrevo um pouco e deito; lavo um prato e deito; ponho a roupa na máquina e deito; leio um pouco e durmo. Se estou num trabalho fixo, respiro mil vezes para não pedir demissão ou peço, se estou em um relacionamento, fico entediada e com a ideia fixa do término (sorte que dessa vez arranjei um moço que tem a paciência do tamanho do amor dele!) e termino sem a menor sombra de dúvida. 

Me arrependo de tudo depois e, mesmo tendo consciência de que é o "período", tudo é tão REAL que não consigo racionalizar.


Enfim, isso tudo pra dizer que escrevi trezentas coisas pra vocês hoje, mas não consegui terminar nenhuma frase: deitava no meio da palavra e elas adormeciam comigo.

No mais, tento evitar fazer as contas de quantos dias no mês me sobram "em paz", em harmonia com meus hormônios. Não façam a conta, é desanimador.

Marla de Queiroz 
AMOR DAQUI!

domingo, 26 de outubro de 2014

Apartheid político

Eu votei Dilma!

Não, não estou feliz com os últimos quatro anos e me preocupa os próximos quatro; não compactuo com a corrupção; com a bandalheira ou com os pseudo investimentos em políticas públicas essenciais, as tais bolsas esmolas. Não me conforme com os valores absurdos investidos para a realização da copa do mundo.

Não, também não sou petista; não aprovo a forma de fazer política da maioria de seus militantes e de militantes dos outros partidos (embora não possa generalizar porque conheço muitos militantes éticos e de grande valor em todos os partidos), e, em verdade, raríssimas vezes votei em candidatos do PT, simplesmente porque nunca gostei de seu lider mor, aquele mesmo, dos quatro dedos. Nem por isso deixo de reconhecer o valor de muitos políticos desse partido.

Não, também não tenho nada contra o Aécio Neves, que até há uns dois anos era meu candidato natural para a presidência, enquanto os tucanos insistiam com o Serra. Ao contrário da massa, enquanto todos gritavam "Lula-lá,  brilha uma estrela", eu estava ali, engolindo as derrotas de José Serra e comemorando as vitórias de Geraldo Alckmin, que sempre teve meu voto, com exceção dessa última eleição. Na contra-mão, sou fã de carteirinha de FHC, meu eterno melhor presidente do país, mas não votei no candidato dele na última eleição municipal.

Também discordo da permanência de um mesmo partido ou pessoa pública no poder por tanto tempo, a ponto de se transformar em uma mini ditadura. 

Claro, como a maioria dos brasileiros, clamo por mudança, anseio por um país melhor, suspiro por um verde amarelo reluzente, vibrante e forte. Não sou alienada e não finjo viver no país das maravilhas. Quero escola de qualidade, saúde para todos, mais empregos e muita segurança.

Votei em Dilma não em razão de seu plano de governo furado, de suas propostas que não se cumprirão, de sua já comprovada falta de competência para administrar o país, e muito menos por achá-la melhor que o Aécio. Os mesmos motivos não me fizeram votar em Aécio, afinal, convenhamos, não havia nada de grandiosidade em seu programa de governo ou em suas propostas que, sabiamos, não seriam cumpridas. Sua candidatura, sua campanha, foi tão suja quanto a de sua adversária. O mesmo direciono aos demais candidatos. 

Não havia escolha, essa foi a eleição do menos pior. Foi a eleição protesto, o voto "vou mostrar para eles que o povo tem mais força". Foi uma eleição contra o PT, generalizando e misturando a sigla partidária com os chefões de quadrilha que vimos ser presos em razão do descarado mensalão e outras falcatruas. O povo nem se importou se os demais também tinham telhado de vidro e lixo para esconder embaixo do tapete.

No meu caso, escolhi Dilma pela lógica: olhei ao meu redor e percebi que o PSDB foi uma catástrofe na região em que vivo: meu sempre governador não fez juz ao meu voto nessa eleição e vendo a situação de minha cidade e de cidades vizinhas, administradas por tucanos, só pude pensar que minha insatisfação só aumentaria se Aécio replicasse essa incompetência na esfera federal. 

Escolhi a mesma varejeira para a mesma merda, afinal já conheço o cheiro. Nem Aécio, nem Marina, nem Luciana ou Fidelix fariam diminuir o perfume da mercadoria. Estamos carentes de gente decente na política, de políticos que estejam totalmente voltados para o bem de todos os brasileiros e não apenas em encher os bolsos de uns poucos e os seus próprios.

Nenhum deles tem do que se orgulhar, e menos ainda seus militantes e eleitores, que, sem perceberem, continuam com a campanha, não para um cargo político, mas uma campanha de intolerância, raiva, ódio, um apartheid moral e social, uma segregação cultural, num país que se orgulha da liberdade e da democracia.

Durante toda a campanha, e após a eleição, há apenas poucos minutos, tive a infelicidade de ver e ouvir muitos pessoas, dentre elas, inclusive,várias que considero inteligentes, decentes, éticas, generosas, e por quem tenho grande carinho e até estreita amizade e respeito, usando palavras de ordem contra uma região, um estado, grupos étnicos e culturais, simplesmente porque naqueles locais a votação em Dilma lhe rendeu a reeleição.

Para meu espanto vi pessoas dizendo que deixariam o Brasil; outras  propondo a separação do país entre as regiões que repudiaram Dilma e as que a ajudaram a ser reeleita; outros discriminando grupos étnicos; os que acham que sustentam o restante do país; eleitores sendo chamados de burros, alienados, vagabundos e tantos outros termos pejorativos. 

Tudo isso me fez entender porque não temos políticos decentes e honestos: na realidade, nós, seres humanos, homo sapiens, orgulhosos de sermos diferentes dos animais apenas por pensarmos, já não somos assim tão racionais. Vivemos, no último milênio um embate violento, uma imposição de opiniões a forceps. Pessoas querendo ser melhores que as outras apenas por pensarem de forma diferente.

E eu, que ainda muito jovem derramei lágrimas pelo movimento "Diretas Já" mesmo sem entender direito o que estava acontecendo; que vi Henfil de volta ao Brasil; vi o último presidente militar deixando o cargo e o primeiro eleito pelo povo tomando posse; não posso acreditar que estou vendo o mesmo povo se digladiando, se ofendendo, discriminando uns aos outros, depois de terem sofrido e lutado lado a lado para que a democracia saisse dos discursos inflamados e tomasse forma de fato e de direito, garantida pela Constituição que ajudamos a criar.

Tive medo. Medo que essa merda toda possa atingir meu filho e os filhos de meus amigos e os filhos de nossos filhos. Medo que num futuro próximo eu ainda consiga ver tomar posse um outro governo autoritário, ditador e que acabe nos proibindo de ir as urnas, fazendo com que voltemos a estaca zero.

Votei Dilma, sim! O voto é meu, vivo em um país democrático em que o presidente é eleito por voto direto e escolhido pela maioria de todos os brasileiros de norte a sul do país. Se nordestinos, mineiros ou cariocas votaram em Dilma, paulistas, gaúchos e paranaenses também; assim como o povo do centro-oeste, do norte e de todas as regiões também votaram em Aécio.

Deixem disso, somos um só, e todos temos direito a escolha, melhor ou pior, e até menos ruim.  

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Feliz aniversário, sol da minha vida.



Parece ter sido ontem que eu o carreguei no colo pela primeira vez. Também parece que ter sido ontem que ele balbuciou as primeiras palavras, deu seus primeiros passos.

E ainda que eu não tenha percebido, o tempo passou muito rápido, Já não consigo carregá-lo, ele fala milhões de palavras e seus passos são fortes e rápidos.

Doze anos se passaram. Meu pequeno bebê (que na realidade, nunca foi pequeno) tornou-se um meninão e se prepara agora para ser meu mocinho (na verdade, moção).

Hoje a luz dos meus olhos faz aniversário e o presente quem continua ganhando sou eu, a cada sorriso que recebo, a cada abraço de tamanduá, a cada "eu te amo!" ou "Você é linda!".

Meu filho é pura doçura, puro amor. É educado, esforçado, amigo leal e fiel de todos os seus amigos, meu companheiro para todas as horas, É generoso, alegre e tem um senso de humor incrível. 

Agradeço a Deus diariamente por ter permitido que este ser iluminado seja meu companheiro  nessa passagem terrena.


Eduardo, amo você, filho, de tantão, de muitão, de montão, por todas as vidas. Obrigada por todas as alegrias desses doze anos de vida.

domingo, 31 de agosto de 2014

Divagações de sereia

As vezes o passado volta a nos assombrar, outras a nos encantar, mas sempre com aquela sombra de incertezas. Há momentos em que me pego querendo experimentar coisas que já vivi e nesses instantes o coração balança, quase não ouvindo a voz da razão.


Sinto falta de tempos já vividos e nunca esquecidos, coisas que tinha a certeza já estavam aquietadas dentro de mim. Tenho medo desse “eu antigo” que emerge das profundezas, pois conheço a força motriz de seus desejos. 

Difícil separar quem sou, daquela que fui, e ainda me equilibrar entre as duas, para me tornar inteira novamente.

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Amor: com fim, sem fim, mas sempre amor.

Não há qualquer regra para que estórias de amor tenham, necessariamente, um final feliz. Há muitas estórias de amor que encantaram o mundo mesmo sem o clichê “foram felizes para sempre”.


Assim foi a nossa vida, a nossa história, ao longo desses quase 20 anos. E o final, enfim, chegou. Mesmo sem o “felizes para sempre”, não deixou de ser uma linda estória de amor, pontuada por momentos de carinho, bom humor, ternura e, sempre, muito respeito mútuo. 

Por sorte, não vivemos um filme de terror e nem mesmo um drama choroso e tão cheio de mágoas como aqueles com os quais nos deparamos diariamente.

Atrevo-me dizer que vivemos uma comédia romântica, que não teve o tal “felizes para sempre juntos”, mas que terá, sim, o felizes para sempre, cada um no seu quadrado, cada um ao seu modo, sem cobranças, sem mágoas, sem neuroses, mas com muita amizade e o respeito de sempre. 

Nossa parceria, sempre tão afinada, vai continuar vida afora, porque o amor que construímos, ainda que já não renda momentos tórridos, existirá além da vida, como sempre existiu e nos acompanhou. Querendo ou não, seremos sempre companheiros de estrada, aqueles que se entendem com o olhar, se compreendem com meias palavras. 

E quer saber? Tivemos sim, o nosso “felizes para sempre”, pois o resultado de todos os nossos bons e lindos momentos, de toda a nossa união, da nossa comunhão, é aquele que faz, a cada um de nós, feliz para sempre, onde quer que estejamos, juntos ou separados: nosso menino. 

Foi muito bom viver essa história com você. Nunca me arrependi de um único dia desses 18 anos de convivência. Aprendemos muito um com o outro. Você sempre esteve ao meu lado, me apoiando, me dando colo, me chamando a atenção. E eu, sempre estive com você, para o que desse e viesse. 

Por tudo isso é que conseguimos chegar ao final dessa história de mãos dadas, passos juntos, como todas as pessoas de bem e que se amam verdadeiramente deveriam fazer. E o mais importante, com a certeza de que, apesar dos caminhos serem diferentes daqui por diante, o amor nunca deixará de existir e nos acompanhar. Eu lhe perdoo toda e qualquer mágoa que, por ventura, tenha marcado meu coração, e lhe peço perdão pelo mesmo motivo. 

Quero de toda a minha alma, que você seja muito, muito feliz, sempre, e, no que depender de mim, estarei sempre aqui, para te ouvir, te acalmar, apaziguar e compreender. Te amo muito, sempre, por todas as vidas. 


Feliz recomeço para nós!


terça-feira, 5 de agosto de 2014

Dói, sim.

Uma vez, há muito tempo, alguém me disse que precisava sair da minha vida para que eu pudesse ser feliz. Ainda que fosse muito jovem, nunca acreditei naquelas palavras, porque a dor da ausência não pode fazer qualquer pessoa feliz.

A ausência imposta, dói, machuca, fere e, suas consequências, algumas vezes, perduram por um longo tempo. Mas, como todas as outras, essa dor também vai diminuindo, e o tempo trata de cicatrizar as feridas. 

A pessoa realmente saiu de cena, me deixou viver e eu, claro, acostumada com a sua ausência, que não doía, mas se fazia silenciosamente presente, fui feliz. 

Vivi minha vida com intensidade, com paixão, e cercada de muito amor. Aquela ausência virou parte de mim, era uma presença constante, uma lembrança boa, memórias de um tempo que não voltaria mais. Me fez crescer, me fez forte.

Mas a vida não tem script, não tem marcação de texto, não tem direção. A vida é a vida, pulsante, elétrica, em movimento. E nessas tão famosas "voltas que a vida dá", sem aviso, sem tempo para ensaio, sem preparação, fui transportada de volta para aquele mesmo tempo, com a mesma pessoa, que, mais uma vez, me disse que precisa ir embora para que eu continue a ser feliz. E mais uma vez, não me deu opção de escolha, apenas me deixou de presente aquela mesma ausência, que hoje, voltou a doer. 


segunda-feira, 28 de julho de 2014

Entrelaçada

"As linhas da minha vida andam por entrelinhas, entrelaçadas aos laços que fiz e desfiz e aos que não aprendi desfazer. Misturam-se linhas tortuosas, torturadas, ora claras e definidas, e ainda assim, apenas linhas, que se cruzam e entrecruzam entre pontos e meio-pontos que o tricô da vida vai bordando pelo caminho. Definitivamente, nesse último ano a vida tem gostado da brincadeira de brincar comigo, de testar meus ânimos, meus limites e me tirar pra dançar. Então tá. Viro bailarina se preciso for". (divagações de Uma sereia aposentada). E já aviso: sem perguntas, por favor, nem eu tenho as respostas.

domingo, 27 de julho de 2014

Declaração de amor aos meus amores


Aprendi, ao longo da vida, que agradecer é fundamental e faz o mundo evoluir. Então, tirei esse momento, em que meu coração está pleno de alegria, para agradecer ao Pai Criador por me dar a oportunidade de evolução nesse planeta ao lado de pessoas que muito de si me deram e contribuíram para que eu possa ser o que sou.


Não me importa se chegaram ontem, há uma década ou mais, ou se ainda estão por vir. O que importa é o amor que me dedicam, os sorrisos compartilhados, os abraços apertados, os puxões de orelha para a realidade, o riso fácil.
 
Quero que cada um de vocês saiba o quanto é importante em minha vida, o quanto doou para sustentar meu espírito, tantas vezes perdido, muitas vezes feliz. Não, ainda não sou um espírito livre, equilibrado e em paz, mas percebo que a evolução se apresenta dia a dia e que cada um dos meus sorrisos, ouvidos e abraços para cada um e de cada um, me ajuda a subir estes longos degraus.

Mais jovem, me sentia feliz por meus dedos serem insuficientes para contar os inúmeros amigos que me rodeavam. Hoje, minha felicidade é conseguir separar os verdadeiros amigos, irmãos fraternos, daqueles que estão por aqui apenas para fazer parte da caminhada; porque descobri que os verdadeiros amigos não caminham juntos: eles ficam na concentração; estão ao longo do percurso ou te esperam na linha de chegada; porque são necessários para fortalecer o nosso caminhar, afinal, são os que nos incentivam, nos estendem as mãos e nos recebem com abraços.

Muitos de vocês nem se conhecem e outros se conheceram através de mim, mas quero que todos saibam da importância que tem nessa minha estrada e por isso lhes declaro esse amor para que jamais esqueçam que são amados, porque, todos os dias, quando me levanto, dou graças a Deus por ter a certeza de ser amada por vocês e isso ilumina o meu dia.

Muito obrigada, de coração e alma.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

O show não basta, tem que ter final apoteótico.

Não é minha preferência a advocacia na Justiça do Trabalho. Não sou expert no assunto e não tenho jogo de cintura para "vender meu peixe", por isso não ofusco o brilho dos colegas especialistas nessa área.

Aqui em casa dividimos muito bem os afazeres: enquanto um, praticamente mora no fórum trabalhista, prefiro me aventurar pelas varas cíveis. Dessa forma, cada um na sua, sem estresse, nos entendemos muito bem. 

E por nos enterdermos perfeitamente, também confiamos um ao outro os nossos trabalhos e nos ajudamos sempre que preciso. Então, uma vez que "o outro" resolveu tirar férias e alguém precisava ficar por aqui para ganhar o pão, lá fui eu, "brilhar" na Justiça do Trabalho.

Não bastasse a pessoa me confiar duas audiências no mesmo dia, com 10 minutos de diferença entre uma e outra , tinham que ser em varas diferentes, uma em cada ponto de um longo corredor. 

Sento lá, faço aquela cara de paisagem (nem preciso me esforçar muito, né, afinal, gente bonita já impressiona só respirando, kkkk), guardo minha falta de jeito na bolsa e toco o barco. Já saio de lá frustrada porque aquilo que "o outro" me passou, aconteceu de forma totalmente diferente, mas... tudo bem, sereia é pra isso mesmo, enfrentar qualquer maremoto com as escamas brilhando.

Terminada a primeira empreitada corro para a segunda, a fim de verificar se ainda dava tempo de salvar o cardume, porque o show tem que continuar. Em meio aos muitos advogados, reclamantes e prepostos que aguardavam o seu tempo de apresentação, passo zunindo pelo cartório em direção a porta da sala de audiência e me esqueço de um pequeno declive no piso. Calma, faz parte do meu show, não vivo sem platéia e precisava de um final apoteótico.

Resultado: toda a atenção voltada para minha linda figura, multidão insandecida ao meu redor, braços desesperados para me tocar e uma confusão de mãos estendidas, não para aplaudir minha competência, mas para me ajudar a levantar do chão depois de eu ter me estatelado ao escorregar no "maldito declive" entre o cartório da 2a Vara do Trabalho e sua respectiva sala de audiências. 

Como diriam alguns possíveis clientes quando me procuram: quero ser indenizada pela situação vexatória (uma sereia lindonésia, estatelada no chão na frente de seus fãs) e pelos danos materiais (riscou meu sapato e quebrou minha caneta BIC) e poque até agora não sei o que doeu mais: a bunda, o pé torcido ou a minha cara linda, queimando de vergonha, kkkkkkkk.

Tá fácil não, ser sereia.

terça-feira, 25 de março de 2014

Inconsciência negra

Particularmente não concordo com a criação de um "Dia da Consciência Negra", pois acredito que no mundo em que vivemos, com tanta evolução, tal lembrança seria desnecessária, pois não deveria haver separações de qualquer tipo, seja de raça, religião, sexo, cultura ou condição social. Deveriamos comemorar o "Dia da Consciência da Humanidade", onde a homenagem seria ao respeito a diversidade e a falta de preconceito.

Mas, ainda que a globalização torne as mudanças ao nosso redor cada vez mais rápidas, onde os avanços tecnológicos ocorrem a cada minuto, o mesmo não acontece com  a evolução humana que não acompanha o mesmo ritmo.

O espírito humano ainda está ancorado numa era ultrapassada e nebulosa, onde a violência, a intolerância, o preconceito, o desrespeito ao outro, aumentam a cada dia, nos obrigando a criar mecanismos que nos façam lembrar de coisas que já não deveriam existir, como o preconceito racial.

Daí a necessidade do "Dia da Consciência Negra", para que os preconceituosos não se esqueçam de que, apesar de sua existência, o mundo evoluiu, sim, e a luta pela liberdade de nossos irmãos negros deve ser respeitada, pois muito sofreram e ainda sofrem as consequências das chibatas e dos atos desrespeitosos contra sua raça, religião e cultura, praticados durante toda a colonização e desenvolvimento dessa nação.

Nação que de branco puro, tem apenas a cor na bandeira nacional, afinal, somos um Brasil mestiço, multifacetado pelas cores e culturas de todos os povos imigrantes, que contribuiram para formar o DNA de cada brasileiro, cujo sangue corre nas veias também com o gene da raça negra.

Em Nova Odessa, interior de São Paulo, na contramão da história, um vereador pretende apresentar um projeto de lei que, se aprovado, criará o mês da consciência negra, revogando o feriado do Dia Municipal da Consciência Negra, comemorado no dia 20 de novembro, como em muitas outras cidades do Brasil.

O projeto é todo pomposo, exalta a importância dos negros no desenvolvimento do país e ainda propõe a criação da medalha "Zumbi dos Palmares", honraria àqueles que se destacarem nos movimentos sociais no combate ao racismo e disseminação da cultura afro-brasileira.

Seria louvável a propositura não fosse a intenção por trás da mesma, ou seja, prestigiar e agradar o comércio local, que não quer mais um feriado no calendário municipal atrapalhando os seus negócios, como se em um único dia fossem privados de todas as vendas do ano.

Muitos devem pensar: "e daí? qual a diferença ser ou não feriado? Tal fato não vai diminuir o preconceito". 

Outros tantos devem dizer: "que pena, menos um feriado para tomar cerveja"; e outros ainda: "que bom, um feriado a menos para atravancar o desenvolvimento do país, que já tem feriados demais".

Talvez para você, que como eu, tem a pele quase transparente,  de um branco fantasmagórico, quase anêmico, o fato de ser ou não feriado não tem qualquer importância.

Todavia, para nossos irmãos negros tal data é mais uma conquista, um dia em que os movimentos sociais afro-descendentes não só fazem festas, mas aproveitam para movimentar-se no sentido de conscientizar o próprio negro de que sua negritude é parte importante desse país e que sem a coragem de seus ancestrais, sem o trabalho árduo de seus pais, avós, tataravós, os branquinhos não estariam na crista da onda de um país tão rico de cultura, exatamente por ser um produto proveniente de raças multicores.

E aí, em uma pequena cidade do interior, por pura vaidade, apenas para atender o clamor de alguns poderosos,  revoga-se o feriado, na surdina e sem aviso, sob alegação de que um dia não é o suficiente para homenagear tão importante cultura, e por isso tal homenagem deve estender-se por um mês inteiro, oportunidade que trará maior conscientização da população. 

E acredite, o pior não é isso. Feio mesmo é um outro vereador, talvez envergonhado por estar apoiando a idéia do colega, propor uma moção de aplauso a principal ativista de movimentos sociais afro-descendentes do município, na tentativa vã de convencê-la de que a propositura é sim, algo grandioso.


Isso parece piada, mas não é. Piada é o fato de que a lei que se pretende revogar é de autoria do antigo presidente da Câmara, hoje homem de confiança da administração municipal, da qual, o autor da nova proposta, é líder de bancada na câmara, portanto, do mesmo grupo político, que pelo visto, dá com uma mão e tira com a outra.

Parabéns nobres vereadores, pela incansável falta de senso comum, pela constante falta de vergonha na cara, e pela total falta de consciência negra, branca, rosa ou colorida.

A vocês, o povo propõe uma moção de aplauso por tanta palhaçada e deserviço a população.


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