"Ninguém nasce odiando outra pessoa
pela cor de sua pele,
ou por sua origem, ou sua religião.
Para odiar, as pessoas precisam aprender,
e se elas aprendem a odiar,
podem ser ensinadas a amar,
pois o amor chega mais naturalmente
ao coração humano do que o seu oposto.
A bondade humana é uma chama que pode ser oculta,
jamais extinta."
Nelson Mandela
Ontem
no facebook, compartilhei uma imagem que achei engraçada. Naquele momento não
imaginei o quão infeliz foi a minha idéia e nem o quanto eu poderia vir a me
magoar com tal ato.
Tratava-se
da imagem de uma mulher com cabelos muito compridos, onde não se via o seu
rosto. A imagem dizia: “Nunca mais reclame do seu cabelo!”
Achei
muito engraçado, não pela foto em si, mas pelo fato de que todas as mulheres,
ao menos todas as que conheço, inclusive eu, terem o costume de reclamar, não
só de seus cabelos, mas de todas as outras partes de seu corpo. Nunca estamos
realmente contentes com aquilo que temos. E naquela foto o que me chamou a
atenção foi que nas últimas duas semanas venho tentando marcar para cortar o
cabelo, que, na minha opinião, está simplesmente indecente e feio, ao passo que
algumas pessoas com quem eu encontro dizem que meu cabelo está lindo.
Foi
exatamente nessa contradição que pensei quando vi a postagem e resolvi
compartilhar com outras pessoas. Este foi o meu erro. Equivocadamente, no lugar
de postar a foto num grupo restrito de amigas, postei a imagem num grupo do
qual participo há muito pouco tempo e onde ninguém me conhece.
Vocês
nem imaginam o que aconteceu: em menos de 02 minutos passei a ser conhecida
pelo grupo todo, que deve ter mais de 600 membros. Isso é o que chamo de 15
minutos de fama. É a Sereia Aposentada esquentando os tamborins para 2012.
Fiquei
super falada, ou melhor, super mal falada. Alguém não gostou da postagem, se
ofendeu e me questionou. E eu, que antes de ser Sereia Aposentada, sou uma Diva
dos Entas, tentei explicar que não quis ofender e ainda pedi desculpas se fui
mal interpretada.
Em
menos de 01 minuto, várias pessoas começaram a se manifestar contra a minha
postagem, e, pra concluir, fui chamada de cretina, burra e racista.
Agora
vocês devem estar perguntando: que raio de imagem foi essa que causou todo esse
burburinho?
A
imagem, a qual não vou postar aqui para não alimentar discussões, tratava-se,
como eu disse, de uma mulher com cabelos muito compridos, onde não se via o seu
rosto. O “x” da questão (e não da Xuxa), é que a tal mulher era negra.
A
primeira pessoa que me questionou perguntou se eu estava fazendo alguma piada,
porque ela não havia entendido qual a razão de eu estar ofendendo a sua raça.
Ela é negra.
De
imediato, como já disse, me expliquei e pedi para que não me interpretasse mal,
porque minha intenção não havia sido ofender quem quer que fosse, e pedi
desculpas. Ela
respondeu me chamando de racista e que não havia desculpas para o que fiz.
No
mesmo instante, seguiram-se dezenas de postagens de outras pessoas, que, na
mesma linha, passaram a me julgar e me ofender. Fui chamada de cretina, burra,
racista e outros vários adjetivos que muito me envaideceram.
Depois
do pedido de desculpas, não me manifestei mais e deixei o circo armar. Fiquei
de longe acompanhando, e a cada palavra meu coração se enegrecia de tristeza.
Uma das moderadoras do tal grupo interviu, e, sensatamente, disse que não
concordava com a minha postagem, mas também não poderia aceitar a agressividade
na forma como eu estava sendo tratada. Coitada, além de mim, ela foi a única
branquela a se manifestar, e acabou sendo tratada tão bem quanto eu. Atacada de
forma grosseira pelas próprias companheiras.
Não
bastasse, entraram na minha página do face e me deixaram uma mensagem dizendo
para tomar cuidado. Junto estava a minha foto do perfil, com os dizeres: “Sou
uma branca nojenta. Sou uma vagabunda. Preciso rir dos outros, pois sou inferior,
pois sou uma racista safada”.
Confesso
que minha vontade era entrar na conversa e usar de toda a minha boa educação,
não a de Diva, mas a de Sereia mesmo, e mandar todas para a putaquepariu. Mas
achei melhor, e ao menos uma vez na vida, sinto orgulho de ter usado o cérebro
e a sensatez no lugar de agir por impulso, e me recolhi aos prantos.
Não
chorei por medo de ameaças ou pelos insultos proferidos contra mim. Chorei por
mágoa e tristeza em ver o quanto o ser humano está se degradando, se diminuindo
e, ao invés de evoluir, se tornando cada vez mais um ser estranho, de baixa
evolução.
A
intolerância, o ódio e a revolta viraram bandeiras de grupos sociais que
deveriam pregar a paz entre todos. O preconceito tornou-se algo pequeno perto
da intolerância e ignorância de muitos. Preconceito virou válvula de escape
para as pessoas extravasarem suas infelicidades, suas frustrações.
O
grupo que agiu dessa forma dizia que brigavam por sua raça da qual eram
orgulhosos e envaidecidos e por isso não aceitariam nenhuma forma de
preconceito. Infelizmente, não entendi essa manifestação como bandeira contra o
racismo. Ao contrário, me senti marginalizada, como se o racismo fosse contra
mim, porque não tinha a mesma etnia, ou a mesma cor de pele. Por ser branquela
como disseram, sofri racismo, sofri bullying. Fui taxada de vagabunda e safada.
Então
pergunto, que orgulho da raça é esse, se leva ao ódio indiscriminado contra os
demais seres humanos? Além disso, o que é raça, etnia, se me ensinaram que
somos todos seres humanos, feitos a imagem e semelhança do mesmo pai?
Isso
para mim é intolerância, coisa que está se disseminando entre todos os povos,
todas as cores, todas as raças, todos os credos, todos os seres humanos. Será
que isso acabará um dia, e todos seremos dignos de dizer que realmente somos
irmãos, senão de sangue, em espírito?