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domingo, 9 de janeiro de 2011

Sereia aposentada não sabe nadar

Num daqueles momentos conversa fiada, meu filho me diz:

- Mãe, lá na Praça (Praça é Nossa), eles falaram assim: "cuide bem do seu filho hoje, porque ele vai escolher o seu asilo amanhã".

A mãe, no caso, eu, ri e respondi:

- É por isso que cuido de você muito bem, assim você me coloca num asilo com piscina, tá?

E ele:

- Claro que não, né, mãe. Prá que a piscina se você já vai ser bem velhona? Velhinha não nada, você não sabe? Eu vou é arrumar um lugar que tem comidas bem chiques, porque você adora.

Pausa para divagações.


- Mãe, o que é asilo? Eu posso ir também?


Terei que explicar à ele que sereia, mesmo aposentada, também nada.

domingo, 2 de janeiro de 2011

A fugitiva

Sexta-feira, 31 de dezembro de 2010, 17h00.
No auge da crise alérgica que me atacou no meio da semana, saio apressada para ir ao mercado, na tentativa de conseguir alguma coisa para a ceia de ano-novo decidida de última hora.

O cansaço e a tosse me fizeram negligenciar o fato de que minha cachorra, Preta Gil, estava a espreita, pronta para seus passeios pela rua.

Eu saí, e ela saiu logo atrás, enquanto o portão se fechava. Não liguei muito, porque sabendo que ela tem pavor de rojões, o passeio não duraria mais que alguns minutos.

18h15
Volto do mercado e sou avisada de que a tal Preta Gil, ainda não havia retornado. Estranhei a demora, mas não me preocupei, afinal, com tantos rojões, ela não poderia estar longe.

19h00
Resolvi sair para procurar a fugitiva. Percorri as ruas do bairro, que é pequeno, e voltei para casa na expectativa de encontrá-la no portão, me esperando. Em vão.

20h00
Saí mais uma vez, e novamente por volta das 21h30. Nada. A essa altura a preocupação e o pânico me rondavam. Os fogos ricocheteavam no céu noturno, fazendo estremecer as estrelas.

22h30
Com tristeza, sentamos para jantar. Nosso ano-novo começava a perder a cor, embora o barulho não fosse esquecido. A cada novo espocar, meu coração me lembrava que a fugitiva tinha pavor de rojão.

As horas passavam e a tristeza e o inconformismo nos assaltava. A noite custou a passar, assim como a tosse que não me largava.

Sábado, 01 de janeiro de 2011, 07h00
Aproveitando que todos estariam dormindo e que não haveria qualquer ribombar de rojões, saimos mais uma vez a sua procura. Nada. Vasculhei os matos, as construções, as ruas, me atentando a cada montinho preto que enxergava ao longe. Nada, nem sinal.

10h00
Mais uma vez saio a procura, já me distanciando cada vez mais de minha casa. Numa última tentativa, chego a ir até o bairro onde residia seis meses atrás... e nada.

15h00
Cansada e quase conformada com a "evaporação" da Pretinha, com a ajuda de amigos, fiz a derradeira ronda e não a encontrei. 

17h00
O sono tomava conta de mim, aquela tosse chata não dava trégua, e a tristeza pela perda encheu meu coração.
Dei um fim às buscas e resolvi dormir para esquecer, embora minha mãe insistisse para que saissemos novamente no dia seguinte, bem cedo.

22h30
Mesmo sabendo que ele tinha outras preocupações, mais uma vez roguei à Deus e aos amigos espirituais que me dessem uma colher de chá e a trouxessem de volta. Caso contrário, que não deixassem que ela fosse maltratada ou que passasse fome e sede. 

Domingo, 02 de janeiro de 2011, 01h15
Cochilei, depois de muito tossir, e acordo sobressaltada com os latidos da minha "louca" Paris. Ao fundo, ouço um choramingar cansado, fraco, que vinha do portão. 

Levantamos num salto, eu e minha mãe, e como desvairada fui acendendo as luzes e abrindo portas. Do corredor avisto, no portão, a minha Pretinha, minha encrenqueira Preta Gil, esperando para entrar. 

A esse altura, o Dudu também já havia acordado com o tropé, e, as 02h00 da manhã estávamos comemorando o novo ano, felizes com o retorno da fugitiva. Ela, como louca desvairada, acompanhada de perto pela Paris e pelo Peter, percorreu todos os cômodos da casa e só depois parou para tomar água e se fartar de ração.

09h30
Acordei cansada e com dores no corpo de tanto tossir, mas acordei alegre ao me deparar com aquela coisa preta e balofa, dormindo, esparramada na sua caminha. 

Dou graças à Deus por ter me deixado tê-la de volta, afinal, são dez anos de convivência, de respeito mútuo, de amizade, de lealdade, de amor e carinho.



Minha pretinha já está bem velhinha, não anda direito por conta da artrose e dos problemas de coluna, é bem gorda e se cansa fácil. É a cachorra mais brava e mais valente que já conheci, com ou sem raça definida. É uma cachorra esperta, leal e amorosa. Só arranca pedaços de estranhos que tentam lhe fazer mal ou que tentam fazer mal a mim ou aos meus. Ela sempre foi acostumada a dar os seus passeios, mas sempre voltou para casa. O mais engraçado é que quando volta, tem a cara de pau de sentar no portão e ficar latindo para que alguém abra. Por isso é que não me conformava com o seu sumiço. Agora, minha curiosidade é saber onde foi que ela estava enfiada durante todo esse tempo, mas isso é algo que jamais vou descobrir, porque, mesmo com toda  a sua esperteza, ela ainda não aprendeu a falar, rsrsrsrs.

Ele se foi

(Escrevi este texto há pouco mais de um mês, e o engavetei, por falta de tempo e pela tristeza do ocorrido. Menos de um mês após perder um dos maiores amigos cães, Chico, meu irmão perdeu seu outro cão amigo, o Júlio. Mesmo não sendo velhinho, ele ficou muito doente, e um tumor lhe tirou a vida. Tudo isso nos entristeceu muito, mas o que fazer? C'est la vie. Para aplacar a dor de mais outra bordoada, meu irmão já resgatou outro cão das ruas: o Branco. Seja bem vindo, amiguinho.)



Ele se foi... Júlio - César ou Iglesias, que foi Tobias, foi Skol, foi sem teto, foi sem dono. Ele se foi...

Em sua curta passagem por nossas vidas, deixou a cada um de nós um olhar de carinho, de amor, de agradecimento.

Era assim o nosso Júlio. E digo nosso, porque assim ele foi recebido.

Era o queridinho, porque realmente era muito querido. Tinha aquele olhar meigo e triste, mas que também demonstrava gratidão. 


Gratidão por ter sido acolhido, quando outros o desprezaram, o maltrataram e o abandonaram. Gratidão por ter sido socorrido, quando outros nem lhe notaram. Por ter sido amado, quando ele sequer tinha idéia do que significava amor.

Gratidão por ter sido acolhido no final de sua breve vida. Só hoje percebo que ele, a seu modo, nos agradecia por tê-lo tirado das ruas e lhe dado a  oportunidade de mostrar que ele, de fato, era um grande e leal amigo. Saudade de você, "amarelinho". Acho que não aguentou ficar sem o Chicão, e foi lhe fazer companhia no céu dos cachorros. 

Não tive muito tempo disponível para novas postagens, mas vou tentar compensar o sumiço no decorrer desse novo ano. 

Paciência, amigos, meu humor não está dos melhores ultimamente. Tenho preferido me calar, me recolher e, quem sabe, me entender. De verdade, obrigada pelo tempo que vocês disponibilizam para me afagar, me apoiar e me fortalecer. Desculpem-me pela falta de tato, falta de jeito, falta de educação, falta de carinho e falta de consideração. Apesar de tantas faltas de minha parte, vocês, meus amigos, ainda estão por aí, pulsando e me energizando, me empurrando prá frente, que atrás vem gente!

Beijos da Sereia.

FELIZ 2011!

Mesmo com atraso, quero desejar a todos um FELIZ 2011, de muita LUZ, PAZ, SAÚDE, ALEGRIA e PROSPERIDADE.


Obrigada a todos  que me aturaram no ano que passou e espero contar com vocês mais 365 dias. 


Beijos da Sereia
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