Particularmente não concordo com a criação de um "Dia da Consciência Negra", pois acredito que no mundo em que vivemos, com tanta evolução, tal lembrança seria desnecessária, pois não deveria haver separações de qualquer tipo, seja de raça, religião, sexo, cultura ou condição social. Deveriamos comemorar o "Dia da Consciência da Humanidade", onde a homenagem seria ao respeito a diversidade e a falta de preconceito.
Mas, ainda que a globalização torne as mudanças ao nosso redor cada vez mais rápidas, onde os avanços tecnológicos ocorrem a cada minuto, o mesmo não acontece com a evolução humana que não acompanha o mesmo ritmo.
O espírito humano ainda está ancorado numa era ultrapassada e nebulosa, onde a violência, a intolerância, o preconceito, o desrespeito ao outro, aumentam a cada dia, nos obrigando a criar mecanismos que nos façam lembrar de coisas que já não deveriam existir, como o preconceito racial.
Daí a necessidade do "Dia da Consciência Negra", para que os preconceituosos não se esqueçam de que, apesar de sua existência, o mundo evoluiu, sim, e a luta pela liberdade de nossos irmãos negros deve ser respeitada, pois muito sofreram e ainda sofrem as consequências das chibatas e dos atos desrespeitosos contra sua raça, religião e cultura, praticados durante toda a colonização e desenvolvimento dessa nação.
Nação que de branco puro, tem apenas a cor na bandeira nacional, afinal, somos um Brasil mestiço, multifacetado pelas cores e culturas de todos os povos imigrantes, que contribuiram para formar o DNA de cada brasileiro, cujo sangue corre nas veias também com o gene da raça negra.
Em Nova Odessa, interior de São Paulo, na contramão da história, um vereador pretende apresentar um projeto de lei que, se aprovado, criará o mês da consciência negra, revogando o feriado do Dia Municipal da Consciência Negra, comemorado no dia 20 de novembro, como em muitas outras cidades do Brasil.
O projeto é todo pomposo, exalta a importância dos negros no desenvolvimento do país e ainda propõe a criação da medalha "Zumbi dos Palmares", honraria àqueles que se destacarem nos movimentos sociais no combate ao racismo e disseminação da cultura afro-brasileira.
Seria louvável a propositura não fosse a intenção por trás da mesma, ou seja, prestigiar e agradar o comércio local, que não quer mais um feriado no calendário municipal atrapalhando os seus negócios, como se em um único dia fossem privados de todas as vendas do ano.
Muitos devem pensar: "e daí? qual a diferença ser ou não feriado? Tal fato não vai diminuir o preconceito".
Outros tantos devem dizer: "que pena, menos um feriado para tomar cerveja"; e outros ainda: "que bom, um feriado a menos para atravancar o desenvolvimento do país, que já tem feriados demais".
Talvez para você, que como eu, tem a pele quase transparente, de um branco fantasmagórico, quase anêmico, o fato de ser ou não feriado não tem qualquer importância.
Todavia, para nossos irmãos negros tal data é mais uma conquista, um dia em que os movimentos sociais afro-descendentes não só fazem festas, mas aproveitam para movimentar-se no sentido de conscientizar o próprio negro de que sua negritude é parte importante desse país e que sem a coragem de seus ancestrais, sem o trabalho árduo de seus pais, avós, tataravós, os branquinhos não estariam na crista da onda de um país tão rico de cultura, exatamente por ser um produto proveniente de raças multicores.
E aí, em uma pequena cidade do interior, por pura vaidade, apenas para atender o clamor de alguns poderosos, revoga-se o feriado, na surdina e sem aviso, sob alegação de que um dia não é o suficiente para homenagear tão importante cultura, e por isso tal homenagem deve estender-se por um mês inteiro, oportunidade que trará maior conscientização da população.
E acredite, o pior não é isso. Feio mesmo é um outro vereador, talvez envergonhado por estar apoiando a idéia do colega, propor uma moção de aplauso a principal ativista de movimentos sociais afro-descendentes do município, na tentativa vã de convencê-la de que a propositura é sim, algo grandioso.
Isso parece piada, mas não é. Piada é o fato de que a lei que se pretende revogar é de autoria do antigo presidente da Câmara, hoje homem de confiança da administração municipal, da qual, o autor da nova proposta, é líder de bancada na câmara, portanto, do mesmo grupo político, que pelo visto, dá com uma mão e tira com a outra.
Parabéns nobres vereadores, pela incansável falta de senso comum, pela constante falta de vergonha na cara, e pela total falta de consciência negra, branca, rosa ou colorida.
A vocês, o povo propõe uma moção de aplauso por tanta palhaçada e deserviço a população.