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segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Pior que o preconceito, a intolerância




"Ninguém nasce odiando outra pessoa

pela cor de sua pele,

ou por sua origem, ou sua religião.
Para odiar, as pessoas precisam aprender,
e se elas aprendem a odiar,
podem ser ensinadas a amar,
pois o amor chega mais naturalmente
ao coração humano do que o seu oposto.
A bondade humana é uma chama que pode ser oculta,
jamais extinta." 

Nelson Mandela




Ontem no facebook, compartilhei uma imagem que achei engraçada. Naquele momento não imaginei o quão infeliz foi a minha idéia e nem o quanto eu poderia vir a me magoar com tal ato.

Tratava-se da imagem de uma mulher com cabelos muito compridos, onde não se via o seu rosto. A imagem dizia: “Nunca mais reclame do seu cabelo!”

Achei muito engraçado, não pela foto em si, mas pelo fato de que todas as mulheres, ao menos todas as que conheço, inclusive eu, terem o costume de reclamar, não só de seus cabelos, mas de todas as outras partes de seu corpo. Nunca estamos realmente contentes com aquilo que temos. E naquela foto o que me chamou a atenção foi que nas últimas duas semanas venho tentando marcar para cortar o cabelo, que, na minha opinião, está simplesmente indecente e feio, ao passo que algumas pessoas com quem eu encontro dizem que meu cabelo está lindo.

Foi exatamente nessa contradição que pensei quando vi a postagem e resolvi compartilhar com outras pessoas. Este foi o meu erro. Equivocadamente, no lugar de postar a foto num grupo restrito de amigas, postei a imagem num grupo do qual participo há muito pouco tempo e onde ninguém me conhece.

Vocês nem imaginam o que aconteceu: em menos de 02 minutos passei a ser conhecida pelo grupo todo, que deve ter mais de 600 membros. Isso é o que chamo de 15 minutos de fama. É a Sereia Aposentada esquentando os tamborins para 2012.

Fiquei super falada, ou melhor, super mal falada. Alguém não gostou da postagem, se ofendeu e me questionou. E eu, que antes de ser Sereia Aposentada, sou uma Diva dos Entas, tentei explicar que não quis ofender e ainda pedi desculpas se fui mal interpretada.

Em menos de 01 minuto, várias pessoas começaram a se manifestar contra a minha postagem, e, pra concluir, fui chamada de cretina, burra e racista.

Agora vocês devem estar perguntando: que raio de imagem foi essa que causou todo esse burburinho?

A imagem, a qual não vou postar aqui para não alimentar discussões, tratava-se, como eu disse, de uma mulher com cabelos muito compridos, onde não se via o seu rosto. O “x” da questão (e não da Xuxa), é que a tal mulher era negra.

A primeira pessoa que me questionou perguntou se eu estava fazendo alguma piada, porque ela não havia entendido qual a razão de eu estar ofendendo a sua raça. Ela é negra.

De imediato, como já disse, me expliquei e pedi para que não me interpretasse mal, porque minha intenção não havia sido ofender quem quer que fosse, e pedi desculpas. Ela respondeu me chamando de racista e que não havia desculpas para o que fiz.

No mesmo instante, seguiram-se dezenas de postagens de outras pessoas, que, na mesma linha, passaram a me julgar e me ofender. Fui chamada de cretina, burra, racista e outros vários adjetivos que muito me envaideceram.

Depois do pedido de desculpas, não me manifestei mais e deixei o circo armar. Fiquei de longe acompanhando, e a cada palavra meu coração se enegrecia de tristeza. Uma das moderadoras do tal grupo interviu, e, sensatamente, disse que não concordava com a minha postagem, mas também não poderia aceitar a agressividade na forma como eu estava sendo tratada. Coitada, além de mim, ela foi a única branquela a se manifestar, e acabou sendo tratada tão bem quanto eu. Atacada de forma grosseira pelas próprias companheiras.

Não bastasse, entraram na minha página do face e me deixaram uma mensagem dizendo para tomar cuidado. Junto estava a minha foto do perfil, com os dizeres: “Sou uma branca nojenta. Sou uma vagabunda. Preciso rir dos outros, pois sou inferior, pois sou uma racista safada”.

Confesso que minha vontade era entrar na conversa e usar de toda a minha boa educação, não a de Diva, mas a de Sereia mesmo, e mandar todas para a putaquepariu. Mas achei melhor, e ao menos uma vez na vida, sinto orgulho de ter usado o cérebro e a sensatez no lugar de agir por impulso, e me recolhi aos prantos.

Não chorei por medo de ameaças ou pelos insultos proferidos contra mim. Chorei por mágoa e tristeza em ver o quanto o ser humano está se degradando, se diminuindo e, ao invés de evoluir, se tornando cada vez mais um ser estranho, de baixa evolução.

A intolerância, o ódio e a revolta viraram bandeiras de grupos sociais que deveriam pregar a paz entre todos. O preconceito tornou-se algo pequeno perto da intolerância e ignorância de muitos. Preconceito virou válvula de escape para as pessoas extravasarem suas infelicidades, suas frustrações.

O grupo que agiu dessa forma dizia que brigavam por sua raça da qual eram orgulhosos e envaidecidos e por isso não aceitariam nenhuma forma de preconceito. Infelizmente, não entendi essa manifestação como bandeira contra o racismo. Ao contrário, me senti marginalizada, como se o racismo fosse contra mim, porque não tinha a mesma etnia, ou a mesma cor de pele. Por ser branquela como disseram, sofri racismo, sofri bullying. Fui taxada de vagabunda e safada.

Então pergunto, que orgulho da raça é esse, se leva ao ódio indiscriminado contra os demais seres humanos? Além disso, o que é raça, etnia, se me ensinaram que somos todos seres humanos, feitos a imagem e semelhança do mesmo pai?

Isso para mim é intolerância, coisa que está se disseminando entre todos os povos, todas as cores, todas as raças, todos os credos, todos os seres humanos. Será que isso acabará um dia, e todos seremos dignos de dizer que realmente somos irmãos, senão de sangue, em espírito?

3 comentários:

  1. Imagino o que dve ter passado minha amiga!
    Espero que a onda de más energias já tenha passado e que tudo tenha voltado ao "normal".
    Apesar de maus estes momentos acabam por nos trazer sempre algo de positivo. No seu caso amiga trouxe-nos este momento de reflexão que nos leva a pensar que apesar de tudo o que tem sido dito este ainda é um tema muito difícil de ser conversado...
    Beijo amiga

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  2. As pessoas são estranhas, elas enxergam preconceito e racismo em todos os lugares. Mas, eu acho, que o preconceito a gente leva no coração. Você procura por ele e o encontra. Se eu acreditar que as pessoas me vêem de modo racista, nunca vou aceitar uma brincadeira, um comentário inocente. Acho que todos deveriam se preocupam com as ofensas contra a humanidade, o homem fazendo outro homem sofrer de forma generalizada. Isso sim é importante, mas ninguém liga, querem se subdividir em pequenos grupos (os negros, os índios, os brancos, os carecas, os bigodudos, os baixinhos) e decretar guerra aos outros. Ao invés de fingirem que todos são iguais, porque não assumir que somos todos diferentes mesmo, mas isso é que é bom: as diferenças! A grande variedade de tons de pele ou de cabelo, de gostos (musical, religioso, literário, político), de formas, de idiomas...

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  3. Jo, o que lhe aconteceu me levou a recordar Tomás Hobbes, um empirista inglês, quando ele alega que
    "Homo homini lupus" (o homem é o lobo do homem). Para Hobbes, o homem não é sociável por natureza e só o será por acidente.
    O que percebi aqui foi exatamente isso. Percebi também baixaria, falta de ética, a força bruta da época das cavernas. E olhe que muitos ativistas sérios e, eventualmente negros - pasmem essas ditas "defensoras da raça" - se tiverem conhecimento do ocorrido, estarão cobertos de vergonha. Daquela mesma vergonha que cobriu o povo alemão por conta das atrocidades dos nazistas. Não creio que essas fedelhas entenderam a gravidade do que fizeram e portanto: "Deus, perdoa-lhes, elas não sabem o que fazem..." O que é uma pena, porque tais atitudes denigrem séculos de uma luta pra lá de justa, ética e séria, que o povo negro trava por igualdade.

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