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terça-feira, 19 de novembro de 2013

Mas que boca suja!

 
Esses dias minha mãe lembrou um fato que passo a vida tentando esquecer, pois faz parte de um daqueles momentos vergonhosos das nossas vidas em que gostaríamos, literalmente, que se abrisse um buraco aos nossos pés. Pois bem.

A época era lá pelos saudosos idos de 1977, quando eu, ainda uma pequena sereia de seus 07 anos, vivia perambulando, toda lépida e faceira, em meio às mesas e clientes do restaurante da família.

Entre as minhas idas e vindas, da cozinha para o salão, do salão para a cozinha, eis que me deparo com o garçon atarantado (Pedro, era esse o nome dele, e jamais esquecerei sua fisionomia, por associá-lo ao personagem "amigo da onça"). Continuando... eis que me deparo com o Pedro, atarantado entre tantos pedidos, tantos chamados, que mal vê e muito menos ouve, o toque da campainha avisando que mais um pedido estava pronto. 

Metida a irmã auxiliadora desde que nasci, intrometida como só, saio, toda saltitante, buscando o Pedro pelo salão lotado e gritando, para que ele realmente ouvisse, que a comida estava pronta esperando na "boceta". 

Demorei muito tempo para entender qual a razão do olhar faiscante do meu pai e da imediata saída de minha  mãe da cozinha, me pegando pelo braço e me dando uns safanões, perguntando onde foi que aprendi aquela barbaridade e que aquilo não se repetisse, porque eu apanharia, e nem deixou que eu me explicasse.

Barbaridade? Por que eu, uma pequena sereia já letrada, leitora assídua da Turma da Mônica, Vaca Voadora e Recruta Zero, não podia dizer que a comida estava na "boceta", quando todos no restaurante ficavam esperando que os pratos saíssem por aquele buraco, e rapidamente avisavam, "olha o pedido na "boceta". 

O episódio foi encerrado naquele dia, jurei pra mim mesma não repetir aquela palavra, mesmo quando visse um prato esfriando na "boceta" e pronto, ninguém mais tocou nesse assunto. Mas eu, passei dias acabrunhada, inconformada com o fato de ter passado vergonha na frente de todo o restaurante, só por ter tentado ajudar. Isso me marcou muito, sabem? Doeu, viu?

Fui aprender, anos mais tarde, já um pouco mais letrada, que o tal buraco onde se colocam os pedidos da cozinha para o restaurante chama-se "boqueta", o que nos idos de hoje, também é uma palavra pouco apropriada!

Observações:

1. Para aqueles que também desconheciam a palavra, está aí o significado, esclarecendo ainda, que aqueles que fazem esse serviço, colocar os pratos no tal local, são chamados boqueteiros.



Significado de Boqueta:

Abertura existente entre a cozinha e o restaurante pela qual os cozinheiros passam aos garçons os pratos que serão servidos aos clientes.

A "boqueta" e a boqueteira.
Exemplo do uso da palavra boqueta:
O prato servido estava frio porque o garçon demorou para pegá-lo na boqueta.

2.  E para quem não é daquele tempo e não conhece o "amigo da onça", olha a carinha da criatura. Lembro muito bem que em algum lugar no restaurante do meu pai, existia uma estatueta do amigo da onça, motivo pelo qual jamais me esqueci do Pedro, o garçon.

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