"Minha vida seguia seu curso normal, na solitude por mim escolhida. Uma vida solitária por opção, sem atribulações, no meu compasso.
Um dia, caminhando pelas ruas enlevado por meus próprios pensamentos, eu o encontrei perdido e confuso. Quando nossos olhares se cruzaram entendi imediatamente o seu pedido de socorro e ao mesmo tempo sua promessa de que não atrapalharia a minha solidão tão escolhida, tão perfeita. Naquele instante, o seu olhar me mostrou que seriamos felizes juntos.
E assim, por uma década nossas vidas se entrelaçaram. Minhas escolhas mudaram minha vida algumas vezes nesse período, mas nossa amizade não mudou, cresceu, se fortaleceu, tornou-se viva e pulsante.
Durante esses longos anos ele me brindou com sua alegria desmedida, sua teimosia em querer me ver feliz, mesmo nos meus piores momentos. Sua lealdade e seu amor eram incondicionais.
Hoje o cansaço do tempo tomou conta do meu grande amigo e ele se foi. Despediu-se de mim com aquele seu olhar menino, terno, aquele olhar de quem nada quer, apenas meu amor. Sem conseguir se levantar, sem vontade de comer e com a visão cansada, percebi nos seus olhos aquele mesmo pedido de socorro de uma década antes. Com o coração dilacerado e sem conseguir segurar as lágrimas que teimaram em lavar meu rosto por tempo suficiente para sangrar meu peito, tive que tomar uma das decisões mais difíceis da minha vida: ceifar o sofrimento de meu leal amigo e abrir uma ferida imensa no meu próprio coração, que dificilmente cicatrizará, por conta da saudade que, tenho certeza, não se aplacará com o tempo.
Fica em paz meu companheiro, meu amigo cão, meu cão amigo".
Essa foi a minha tentativa de prestar uma última homenagem a um grande companheiro, chamado Francisco Buarque de Holanda Martins Gomes, o fila que conviveu com meu irmão por longos dez anos. Já velhinho e com muitas dificuldades, hoje foi sacrificado. Tenho certeza absoluta que para meu irmão foi como matar um pedaço dele mesmo. Meu alento é que por acreditar em outras vidas, creio que o Chicão foi alegrar o céu dos animais e será adotado por algum espírito solitário, que terá o prazer de sua companhia daqui pra frente.
Nossa muito triste isso tudo.... ainda nem acredito que ele se foi... tristeza profunda..
ResponderExcluirMeus sentimentos também. É sempre muito difícil perder alguém, independente de quem seja e grau de carinho. Beijos
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