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domingo, 2 de janeiro de 2011

A fugitiva

Sexta-feira, 31 de dezembro de 2010, 17h00.
No auge da crise alérgica que me atacou no meio da semana, saio apressada para ir ao mercado, na tentativa de conseguir alguma coisa para a ceia de ano-novo decidida de última hora.

O cansaço e a tosse me fizeram negligenciar o fato de que minha cachorra, Preta Gil, estava a espreita, pronta para seus passeios pela rua.

Eu saí, e ela saiu logo atrás, enquanto o portão se fechava. Não liguei muito, porque sabendo que ela tem pavor de rojões, o passeio não duraria mais que alguns minutos.

18h15
Volto do mercado e sou avisada de que a tal Preta Gil, ainda não havia retornado. Estranhei a demora, mas não me preocupei, afinal, com tantos rojões, ela não poderia estar longe.

19h00
Resolvi sair para procurar a fugitiva. Percorri as ruas do bairro, que é pequeno, e voltei para casa na expectativa de encontrá-la no portão, me esperando. Em vão.

20h00
Saí mais uma vez, e novamente por volta das 21h30. Nada. A essa altura a preocupação e o pânico me rondavam. Os fogos ricocheteavam no céu noturno, fazendo estremecer as estrelas.

22h30
Com tristeza, sentamos para jantar. Nosso ano-novo começava a perder a cor, embora o barulho não fosse esquecido. A cada novo espocar, meu coração me lembrava que a fugitiva tinha pavor de rojão.

As horas passavam e a tristeza e o inconformismo nos assaltava. A noite custou a passar, assim como a tosse que não me largava.

Sábado, 01 de janeiro de 2011, 07h00
Aproveitando que todos estariam dormindo e que não haveria qualquer ribombar de rojões, saimos mais uma vez a sua procura. Nada. Vasculhei os matos, as construções, as ruas, me atentando a cada montinho preto que enxergava ao longe. Nada, nem sinal.

10h00
Mais uma vez saio a procura, já me distanciando cada vez mais de minha casa. Numa última tentativa, chego a ir até o bairro onde residia seis meses atrás... e nada.

15h00
Cansada e quase conformada com a "evaporação" da Pretinha, com a ajuda de amigos, fiz a derradeira ronda e não a encontrei. 

17h00
O sono tomava conta de mim, aquela tosse chata não dava trégua, e a tristeza pela perda encheu meu coração.
Dei um fim às buscas e resolvi dormir para esquecer, embora minha mãe insistisse para que saissemos novamente no dia seguinte, bem cedo.

22h30
Mesmo sabendo que ele tinha outras preocupações, mais uma vez roguei à Deus e aos amigos espirituais que me dessem uma colher de chá e a trouxessem de volta. Caso contrário, que não deixassem que ela fosse maltratada ou que passasse fome e sede. 

Domingo, 02 de janeiro de 2011, 01h15
Cochilei, depois de muito tossir, e acordo sobressaltada com os latidos da minha "louca" Paris. Ao fundo, ouço um choramingar cansado, fraco, que vinha do portão. 

Levantamos num salto, eu e minha mãe, e como desvairada fui acendendo as luzes e abrindo portas. Do corredor avisto, no portão, a minha Pretinha, minha encrenqueira Preta Gil, esperando para entrar. 

A esse altura, o Dudu também já havia acordado com o tropé, e, as 02h00 da manhã estávamos comemorando o novo ano, felizes com o retorno da fugitiva. Ela, como louca desvairada, acompanhada de perto pela Paris e pelo Peter, percorreu todos os cômodos da casa e só depois parou para tomar água e se fartar de ração.

09h30
Acordei cansada e com dores no corpo de tanto tossir, mas acordei alegre ao me deparar com aquela coisa preta e balofa, dormindo, esparramada na sua caminha. 

Dou graças à Deus por ter me deixado tê-la de volta, afinal, são dez anos de convivência, de respeito mútuo, de amizade, de lealdade, de amor e carinho.



Minha pretinha já está bem velhinha, não anda direito por conta da artrose e dos problemas de coluna, é bem gorda e se cansa fácil. É a cachorra mais brava e mais valente que já conheci, com ou sem raça definida. É uma cachorra esperta, leal e amorosa. Só arranca pedaços de estranhos que tentam lhe fazer mal ou que tentam fazer mal a mim ou aos meus. Ela sempre foi acostumada a dar os seus passeios, mas sempre voltou para casa. O mais engraçado é que quando volta, tem a cara de pau de sentar no portão e ficar latindo para que alguém abra. Por isso é que não me conformava com o seu sumiço. Agora, minha curiosidade é saber onde foi que ela estava enfiada durante todo esse tempo, mas isso é algo que jamais vou descobrir, porque, mesmo com toda  a sua esperteza, ela ainda não aprendeu a falar, rsrsrsrs.

Um comentário:

  1. Nossa, que desespero hein.! Que bom que ela voltou.! Fiquei mega feliz ao final do post. Estava quase chorando já!.

    Você escreve muito bem Jose... uma das minhas grandes inspirações! ^.^

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